Minha avó Eufrozina era semialfabetizada.

Hoje em dia, além dos recursos tradicionais, diversos
outros meios estão disponíveis para auxiliar a contação de histórias. Teatro de
sombras, marionetes, bonecos mamulengos, recursos gestuais e muitos outros, até
mesmo dispositivos eletrônicos. Todos são úteis e não devem ser desprezados.
Embora eu aprecie e valorize a utilização de tais
recursos, não posso negar minha predileção pelo método simples e eficiente que
aprendi com minha avó Eufrozina: usar apenas a voz e as palavras. E apenas a
voz e as palavras emitidas com delicadeza, sem impostações exageradas. Uma
narrativa doce e envolvente, que podia ser ouvida de olhos fechados. Aliás, na
maior parte das vezes o objetivo era exatamente fazer dormir, já que o
principal horário de contação coincidia com o momento de as crianças irem para
a cama.
Fracasso na arte de ninar, as histórias que “Voinha”
nos contava eram eficientes em seu poder de despertar atenção, curiosidade,
fascínio, um turbilhão de sentimentos tão encantadores, que lutávamos contra o
sono e só dormíamos depois de ouvir o esperado “...e viveram felizes para
sempre”. Esse tipo de narrativa tem música, tem ritmo, tem uma magia que aguça
a imaginação e faz dos ouvintes coautores. Foi com ela, com minha avó Eufrozina,
que aprendi a ouvir histórias. Mais tarde, já adulto, aprendi com meus filhos a
arte de contá-las.
Rafael Júnior
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