O escritor teve uma ideia.
A bem da verdade, em nenhum momento, o escritor disse que se tratava de
uma ideia nova. Ele apenas teve uma ideia: escrever uma história sobre uma viagem ao mundo do faz-de-conta. E o primeiro passo seria criar um personagem.
Nada complicado, porque o escritor contava com a ajuda de vários
auxiliares: a Criatividade, o Talento, a Imaginação, o Senso Crítico
e muitos outros que nem dá pra citar aqui, por falta de espaço. Mas um deles
merece destaque: o Trabalho. Sem esse
ai o escritor não conseguiria escrever nada.
Os auxiliares acharam o projeto muito interessante. Mas foram quase
unânimes em afirmar que, em vez de enviar um personagem, o escritor deveria ir
pessoalmente. A única voz discordante foi a do Senso Crítico.
Seguindo a opinião da maioria, o escritor impôs apenas uma condição: um
dos colaboradores faria a viagem junto com ele.
A Imaginação se apresentou como
voluntária.
De carona com ela, o escritor partiu imediatamente. E, numa fração de
segundos, eles percorreram um longo caminho, até encontrarem uma curva enorme,
onde havia uma mulher. “A senhora sabe
onde fica o faz-de-conta?” Perguntou o escritor. “Pode ser em qualquer lugar, menos aqui.” Respondeu a mulher. Eles
estavam no lugar onde o vento faz a curva
e, portanto, longe de tudo, até mesmo do faz-de-conta.
Depois de agradecer à mulher, o escritor seguiu com a Imaginação, até um bosque onde havia um
gato usando um par de botas, a quem pediu a mesma informação sobre o faz-de-conta. “Pode ser em qualquer lugar, menos aqui.” Respondeu o Gato de Botas.
De fato, ali era o lugar onde o Judas
perdeu as botas. Longe de tudo, portanto.
O escritor não desistiu e seguiu em sua jornada, guiado pela Imaginação. Logo encontrou uma vaca, a
quem fez a mesma pergunta e ouviu a mesma resposta: “Pode ser em qualquer lugar, menos aqui.” Pois é. A vaca foi para o brejo. Afinal de
contas, eles estavam no cafundó do brejo,
um dos lugares mais distantes do mundo.
Em mais uma tentativa, o escritor seguiu em frente. No meio do nada, que também é longe de tudo, ele encontrou uma
criança. “Você sabe me dizer onde fica o
faz-de-conta?” Perguntou. “Faz de
conta que é aqui.” Respondeu a criança.
O escritor ficou surpreso. Estava tudo tão claro! O faz-de-conta pode ser em qualquer lugar. É só fazer de conta. Como
não tinha pensado nisso antes?
“É que imaginação de adulto é meio
limitada mesmo.” Disse a criança.
Encantado com tamanha sabedoria, o escritor não viu outra saída: colocou
um ponto final na história.
Rafael Júnior
Nenhum comentário:
Postar um comentário