quinta-feira, 28 de maio de 2015

EM BUSCA DO FAZ-DE-CONTA

O escritor teve uma ideia.
Pois é. Escritores costumam ter ideias o tempo todo. E, por mais óbvia que pareça, a ideia dele era escrever uma história. Nesse ponto a velha amiga Inquietação entrou em cena para questionar: “Qual a novidade que existe na ideia de um escritor escrever uma história?”
A bem da verdade, em nenhum momento, o escritor disse que se tratava de uma ideia nova. Ele apenas teve uma ideia: escrever uma história sobre uma viagem ao mundo do faz-de-conta.  E o primeiro passo seria criar um personagem.
Nada complicado, porque o escritor contava com a ajuda de vários auxiliares: a Criatividade, o Talento, a Imaginação, o Senso Crítico e muitos outros que nem dá pra citar aqui, por falta de espaço. Mas um deles merece destaque: o Trabalho. Sem esse ai o escritor não conseguiria escrever nada.
Os auxiliares acharam o projeto muito interessante. Mas foram quase unânimes em afirmar que, em vez de enviar um personagem, o escritor deveria ir pessoalmente. A única voz discordante foi a do Senso Crítico.
Seguindo a opinião da maioria, o escritor impôs apenas uma condição: um dos colaboradores faria a viagem junto com ele.
A Imaginação se apresentou como voluntária.
De carona com ela, o escritor partiu imediatamente. E, numa fração de segundos, eles percorreram um longo caminho, até encontrarem uma curva enorme, onde havia uma mulher. “A senhora sabe onde fica o faz-de-conta?” Perguntou o escritor. “Pode ser em qualquer lugar, menos aqui.” Respondeu a mulher. Eles estavam no lugar onde o vento faz a curva e, portanto, longe de tudo, até mesmo do faz-de-conta.
Depois de agradecer à mulher, o escritor seguiu com a Imaginação, até um bosque onde havia um gato usando um par de botas, a quem pediu a mesma informação sobre o faz-de-conta. “Pode ser em qualquer lugar, menos aqui.” Respondeu o Gato de Botas. De fato, ali era o lugar onde o Judas perdeu as botas. Longe de tudo, portanto.
O escritor não desistiu e seguiu em sua jornada, guiado pela Imaginação. Logo encontrou uma vaca, a quem fez a mesma pergunta e ouviu a mesma resposta: “Pode ser em qualquer lugar, menos aqui.” Pois é. A vaca foi para o brejo. Afinal de contas, eles estavam no cafundó do brejo, um dos lugares mais distantes do mundo.
Em mais uma tentativa, o escritor seguiu em frente. No meio do nada, que também é longe de tudo, ele encontrou uma criança. “Você sabe me dizer onde fica o faz-de-conta?” Perguntou. “Faz de conta que é aqui.” Respondeu a criança.
O escritor ficou surpreso. Estava tudo tão claro! O faz-de-conta pode ser em qualquer lugar. É só fazer de conta. Como não tinha pensado nisso antes?
É que imaginação de adulto é meio limitada mesmo.” Disse a criança.
Encantado com tamanha sabedoria, o escritor não viu outra saída: colocou um ponto final na história.
                                                                    Rafael Júnior
                                                                                                            Pedagogo/músico/escritor

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