Gritaria, tumulto, alarido, corre-corre. Os corredores do Ginásio do
Padre mais pareciam um formigueiro.
Alunos e professores caminhavam apressados
em direção às salas. Era a campa de entrada, o que significava o fim do
intervalo entre uma aula e outra.
O professor de matemática era um homenzinho compenetrado, vestia-se de
modo discreto, falava baixo e pausadamente, era rígido na disciplina e metódico
até a alma.
– Professor, eu não entendi muito bem o que o senhor acabou de falar – queixava-se
alguém.
– Eu estou falando baixo – retrucava o professor, com uma visível ironia
no tom de voz – para não atrapalhar a conversa dos senhores...
Naquele dia Jorge Batatinha estava agitado além da conta e não demorou
muito até que o professor tomasse uma providência:
– Senhor Jorge, o senhor poderia vir até o quadro resolver esta equação?
– É pra nota, professor?
– Não. Mas se o senhor acertar, fica dispensado da prova e ganha nota dez
na unidade. Se errar, faz a prova e perde dois pontos.
Jorge olhou para os números, letras e sinais no quadro, com aquela cara
de quem não tinha a menor intimidade com o assunto. Alguns colegas começaram a
“soprar” a solução e, ao perceber, o
professor saiu da sala para facilitar.
Alguns instantes depois:
– Já terminei, professor – disse Jorge olhando para o corredor.
O professor voltou lentamente para a sala, examinou a resposta que estava
no quadro, pegou a esponja e foi apagando tudo, ao mesmo tempo em que se
acendia em seus olhos uma cruel expressão de alegria.
– Pois é, senhor Jorge. Está tudo certo. Mas agora eu quero que o senhor
faça de novo e eu vou ficar aqui olhando, para ter certeza de que a lição foi
bem assimilada.
É claro que, sem a ajuda da turma, Jorge Batatinha não conseguiu refazer
a equação e, consequentemente, perdeu os dois pontos na prova da unidade. A boa
notícia é que ele aprendeu a lição. Passou a bagunçar menos e estudar mais, o que lhe rendeu aprovação no fim do
ano sem precisar fazer prova final.
Rafael Júnior
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