terça-feira, 2 de junho de 2015

A LADEIRA DO QUIABO

Minha avó Eufrozina era uma doceira de mão cheia.
Suas queijadinhas eram de comer rezando. As cocadas, os diversos tipos de bolos, os “avuadores” (espécie de biscoitinhos de polvilho), havia uma infinidade de guloseimas deliciosas, que dá água na boca só de lembrar.
Um fato curioso é que esta habilidade culinária também contribuía para tornar ainda mais interessante o jeito dela contar histórias. Eu explico: a maioria das narrativas da minha avó terminavam com uma grande festa onde príncipes e princesas, mocinhos e mocinhas, enfim, onde os heróis comemoravam casamentos, a vitória do bem sobre o mal, o sucesso de suas empreitadas. Fosse qual fosse o motivo, havia festas que duravam dias.
É justamente ai que se dá a articulação entre a doceira e a narradora. Minha avó dizia ter estado presente em cada uma daquelas festas. E mais. Dizia ter trazido um tonel enorme, cheio de guloseimas para todos nós (netos e demais ouvintes das histórias). 
Infelizmente, ao chegar na “Ladeira do Quiabo”, ela invariavelmente escorregava e lá ia o pote de doces rolando ladeira abaixo, espalhando as delícias ao longo do trajeto. Por sorte, ela sempre conseguia salvar uma pequena quantidade de docinhos para que, de alguma maneira, nos sentíssemos participantes das tais festas. E nós realmente acreditávamos que se tratava dos quitutes citados nos finais das histórias.

À medida que eu fui crescendo, comecei a perceber que, coincidentemente, os docinhos recuperados após os tombos na “Ladeira do Quiabo”, eram sempre idênticos aos que haviam sido preparados por minha avó, nos dias em que as histórias eram contadas. 
Mas isso não tem a menor importância.
                                                  Rafael Júnior
                                                                              Pedagogo/músico/escritor

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